terça-feira, 7 de maio de 2013


Jorge de Lima


Jorge Mateus de Lima nasceu em União dos Palmares, no estado de Alagoas, em abril de 1895. Formou-se em Medicina em 1915. Foi deputado estadual (1926), em Alagoas, e vereador (1946), no Rio de Janeiro, onde viveu a partir de 1930. Ali, clinicou e lecionou Literatura, nas universidades do Brasil e do Distrito Federal, e seu consultório tornou-se um centro de reunião de intelectuais e artistas. Em 1935, converteu-se ao catolicismo, o que se reflete fortemente em  sua obra. Vinculado à segunda geração do Modernismo, é um dos mais conhecidos e prestigiados autores da literatura nacional. Poeta maior, autor de romances importantes e médico de prestígio, morreu em novembro de 1953 no Rio de Janeiro. Inventivo, engenhoso, disposto a experimentalismos e extremamente sensível ao drama humano, Jorge de Lima foi um dos maiores tradutores da alma brasileira. Capaz de dar profundidade ao pueril e doçura ao trágico, sua poesia envolve e contamina o leitor num clima de busca essencial.

O poeta Jorge de Lima começou pelas formas clássicas, adotou as idéias modernistas e, por fim, constituiu-se num dos mais completos poetas da língua portuguesa, com uma obra de crítica social, sentido religioso e clara pulsão metafísica, com matizes surrealistas. Sua poesia mereceu ensaios entusiasmados de grandes homens das letras, como Mário Faustino, Otto Maria Carpeaux, Gilberto Freyre e Roger Bastide, tornou-se indispensável em antologias e é objeto de estudo nas universidades. Alguns de seus versos vivem na memória e na alma de milhões de brasileiros: “Ora, se deu que chegou /(isso já faz muito tempo) /no bangüê dum meu avô / uma negra bonitinha, /chamada negra Fulô. // Essa negra Fulô!/ Essa negra Fulô!” (In: Poemas).

Nascido na região onde existira o Quilombo de Palmares, Jorge de Lima viveu os primeiros anos da infância entre a casa grande do engenho de seu pai e o sobrado da família, na pequena cidade de União. O autor dizia que fora aos 8 anos, ao visitar a Serra da Barriga, onde Ganga Zumba instalara o famoso quilombo de escravos, mais tarde governado por Zumbi, que, pela primeira vez, sentira-se tocado pela poesia. Essa paisagem da infância, a lembrança das mães-pretas e as marcas da cultura negra estarão presentes em toda sua obra.

Suas primeiras poesias foram escritas aos sete anos. O soneto O Acendedor de lampiões, seu primeiro sucesso literário, foi composto aos 13 anos e divulgado quando o poeta contava 17. Desde então, seu nome passou a circular nos meios literários. Aos 21 anos, lançou seu primeiro livro, XIV Alexandrinos, com poemas ainda nos moldes parnasianos, e passou a ser considerado o “Príncipe dos poetas de Alagoas”.

O segundo livro, entretanto, Poemas (1927), escrito em 1925, já traria poemas escritos em versos livres e linguagem coloquial. Nessa virada, os temas clássicos também dão lugar a memórias da infância e da região natal. Em seguida, viriam Novos Poemas (1929), inspirado, sobretudo, no folclore negro, e Poemas Escolhidos (1932). Em 1935, após a conversão ao catolicismo, escreve Tempo e Eternidade, em parceria com Murilo Mendes, e Túnica Inconsútil. Nesses livros, o sentimento religioso presente em toda sua obra, ganha feições efetivamente cristãs, sob o lema “restauremos a poesia em Cristo”. Em 1940, em prefácio à primeira edição espanhola de seus poemas, Georges Bernanos exalta seu alcance universal, como fará, anos mais tarde, Gilberto Freyre, em prefácio a Poemas Negros (1947), título que apresenta, além de 16 poemas já publicados em outros livros, uma série de 23 poemas inéditos que traça a trajetória do negro no Brasil, a partir de seus orixás, mitos e personagens.

Para o meio literário brasileiro, 1952 é o ano de Invenção de Orfeu, o grande poema da brasilidade, uma epopéia lírica, onde o poeta é o herói que atravessa o tempo e o espaço, buscando evitar a queda diante das vicissitudes do mundo.

Ganhador do Grande Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras, o autor deixou também uma importante obra em prosa, onde se destacam os romances A Mulher Obscura, obra de conteúdo mítico que fala sobre a busca da Bem-amada, um dos temas reincidentes no universo do autor; O Anjo, um experimento surrealista ou super-realista, e, sobre todos, Calunga, romance social que recria o retorno de um homem à terra natal, depois de anos na cidade grande. A trajetória do protagonista identifica-se com o próprio Nordeste do Brasil e suas relações de poder desiguais.
“Jorge de Lima é um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos, enriquece o brasileiro das áreas menos coloridas pela influência africana, com a expressão poética de sua experiência de nordestino de bangüê nascido e criado perto dos últimos “pombais negros” (...) Ao mesmo tempo ele põe o estrangeiro que se aproxima da poesia brasileira em contato com uma das nossas maiores riquezas: a interpretação de culturas, entre nós tão livres, ao lado do cruzamento de raças.”
Gilberto Freyre,em prefácio a Poemas Negros
“Temos, em Calunga, um realismo claro, como o que acabou trespassando a fase nordestina de Jorge de Lima, e que abrange a fala do lugar, o sentimento religioso, e o trabalho sisifiano (...).”
 
Marcos Luchhesi, crítico literário
 

OBRAS
Romances- Salomão e as Mulheres – 1927, Editora UFPR
- O Anjo – 1934, Civilização Brasileira- Calunga – 1935, Civilização Brasileira
- A Mulher Obscura – 1939, Civilização Brasileira
- Guerra dentro do Beco – 1950, Civilização Brasileira
 
Poesias
- XIV Alexandrinos – 1914, (no prelo), Editora Record
- Novos Poemas / Poemas Escolhidos / Poemas Negros / Livro de Sonetos – 1949, (no prelo), Editora Record
- Castro Alves – Vidinha – 1952, (no prelo), Editora Record
- Melhores Poemas de Jorge de Lima – 1994, Global Editora
- Poesia Completa – 1997, Nova Aguilar
- Poemas – 1927, 2004 – Editora Record
- Invenção de Orfeu – 1952, 2005, Editora Record
- Anunciação e Encontro de Mira-Celi / Tempo e Eternidade (com Murilo Mendes) / A Túnica Inconsútil – 1950, 2006, Editora Record
- Poemas da Infância e Sonetos / Poemas Dispersos - (no prelo), Editora Record
Não Ficção: Ensaios (fora de mercado)- A Comédia dos Erros – 1923, Jacinto Ribeiro Editores
- Dois Ensaios (Proust e Todos Cantam sua Terra) – 1929, Casa Ramalho; 1934, Civilização Brasileira- Anchieta – 1934, Civilização Brasileira
- História da Terra e da Humanidade – 1937, ABC; 1944, Epasa- Vida de São Francisco de Assis – 1942, Zélio Valverde
- D. Vital – 1945, Agir- Vida de Santo Antonio – 1947, Edições Ocidente
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário